O mercado global de streaming tem passado por transformações profundas nos últimos anos, impulsionado por mudanças no comportamento do público, inovações tecnológicas e o surgimento de novas plataformas que vêm rompendo barreiras geográficas e culturais. Dentro desse cenário, as plataformas asiáticas têm se destacado com uma força impressionante, conquistando uma base de fãs cada vez mais ampla e leal ao redor do mundo.
O fenômeno vai muito além da popularidade de doramas e animes: trata-se de uma verdadeira mudança de paradigma no consumo de conteúdo audiovisual, onde o Oriente não apenas participa, mas lidera. Este artigo explora como as plataformas asiáticas estão ganhando espaço no mercado internacional e por que seu domínio no mundo do streaming é cada vez mais evidente.
O crescimento das plataformas asiáticas
Nos últimos anos, plataformas como Viki, WeTV, iQIYI, Bilibili, Viu e Line TV vêm atraindo milhões de usuários fora da Ásia, oferecendo uma ampla variedade de conteúdos com legendas em diversos idiomas. Algumas dessas plataformas pertencem a gigantes do mercado asiático: iQIYI, por exemplo, é da Baidu (o Google chinês); Viu pertence à PCCW, uma grande empresa de telecomunicações de Hong Kong; e a Bilibili, voltada principalmente ao público jovem, tem crescido graças ao seu conteúdo voltado para a cultura otaku, músicas, animes e livestreams.
O crescimento dessas plataformas é impulsionado por alguns fatores principais: o aumento da conectividade global, o acesso facilitado à internet, a globalização cultural e o cansaço do público com os formatos tradicionais de entretenimento. Muitos espectadores buscam algo novo, fresco e que ofereça uma perspectiva diferente da narrativa ocidental dominante.
Segundo dados recentes da KOFIC (Korean Film Council), o número de países que consomem regularmente conteúdo coreano mais que dobrou entre 2015 e 2023. A Netflix, ao perceber o crescimento desse segmento, também investiu pesado em conteúdos asiáticos — incluindo a criação de centros de produção na Coreia do Sul.
Os diferenciais culturais que encantam o público
O sucesso das produções asiáticas não é apenas uma questão de oferta. Existe algo no conteúdo que toca profundamente o público internacional. As produções coreanas, chinesas, japonesas e tailandesas exploram temas universais — como amor, amizade, honra, superação — com uma sensibilidade, profundidade emocional e estética que muitas vezes estão ausentes nas produções ocidentais contemporâneas.
O storytelling asiático valoriza o desenvolvimento emocional dos personagens, os silêncios, as trocas de olhares, os detalhes. É comum ver doramas com roteiros bem amarrados, onde tudo tem propósito e nenhum episódio parece “encheção de linguiça”. Além disso, a ausência de cenas excessivamente explícitas permite que públicos de diferentes idades consumam os conteúdos com mais conforto.
Outro ponto que encanta o público é a estética: figurinos, cenários, trilhas sonoras, direção de arte. Cada elemento é pensado de forma minuciosa. Doramas como Crash Landing on You e Goblin não apenas cativaram pelo enredo, mas também se tornaram referências visuais no mundo do entretenimento.
A força dos fandoms internacionais
Não se pode subestimar o poder dos fãs na ascensão das plataformas asiáticas. O público que consome doramas, animes e BLs não é passivo. Eles se organizam em comunidades, fazem campanhas de divulgação, legendaram séries voluntariamente por anos antes da chegada de plataformas oficiais, e criam verdadeiros movimentos de popularização.
Esses fandoms estão no Twitter, Instagram, TikTok e YouTube, criando análises de episódios, teorias, montagens, edits, memes e muito mais. A cultura do fã ganhou um novo significado com a popularização das produções asiáticas — e as próprias plataformas aprenderam a ouvir e interagir com esse público apaixonado.
Muitos desses fãs passaram a estudar os idiomas nativos de suas séries favoritas, impulsionando inclusive o crescimento de escolas de coreano, japonês e chinês fora da Ásia.
Investimentos das gigantes ocidentais
Grandes plataformas como Netflix, Disney+ e Amazon Prime Video rapidamente entenderam que ignorar o conteúdo asiático seria um erro estratégico. A Netflix, por exemplo, investiu mais de US$ 2 bilhões na Coreia do Sul nos últimos anos, criando produções como Round 6 (Squid Game), All of Us Are Dead e The Glory, que se tornaram fenômenos mundiais.
A Disney+ entrou na disputa e começou a lançar doramas originais em parceria com estúdios coreanos. Já a Amazon tem avançado em conteúdo japonês e começou a apostar também em dramas tailandeses. Esse movimento mostra que as plataformas ocidentais reconhecem a potência das narrativas asiáticas — e sabem que o público quer mais.
Diversidade de gêneros e públicos
Outro fator que contribui para o sucesso das plataformas asiáticas é a diversidade de gêneros e temáticas oferecidas. Há doramas românticos, históricos, escolares, de fantasia, thrillers psicológicos, ficção científica e muito mais. O gênero BL (Boys Love), por exemplo, tem conquistado uma base sólida de fãs com produções tailandesas, coreanas e até japonesas.
Também há espaço para histórias mais maduras, voltadas para o público adulto, e para conteúdos infantis — como animações educativas, contação de histórias e até variedades familiares. Esse leque amplo atrai pessoas de diferentes idades, estilos e origens culturais.
Impactos culturais e econômicos no mundo real
O sucesso das plataformas asiáticas não se restringe ao universo digital. Ele tem repercussões diretas na economia e na cultura global. Um exemplo é o aumento do turismo em países asiáticos motivado por fãs de doramas que desejam visitar os locais onde suas séries favoritas foram gravadas.
Além disso, a popularização da cultura asiática levou a um aumento significativo no consumo de produtos de beleza coreanos, moda inspirada nos figurinos das séries, comidas típicas como kimbap, ramyeon, bubble tea, entre outros. O soft power asiático — isto é, a capacidade de influenciar culturalmente outros países — nunca foi tão forte.
Desafios das plataformas asiáticas
Apesar do crescimento exponencial, as plataformas asiáticas ainda enfrentam desafios. Um dos principais é a barreira do idioma, que ainda afasta parte do público — embora legendas em múltiplos idiomas estejam cada vez mais disponíveis.
Outro obstáculo é a pirataria, que continua sendo um problema grave. Antes da popularização das plataformas oficiais, muitos doramas e animes só eram acessíveis por meios alternativos. Hoje, apesar de haver mais oferta legal, os sites piratas ainda têm forte presença.
As plataformas asiáticas também precisam lidar com os algoritmos das gigantes ocidentais, que muitas vezes não priorizam esse tipo de conteúdo, dificultando sua descoberta por novos públicos.
O futuro: o Oriente como centro criativo global
Tudo indica que a tendência é de crescimento contínuo. A Ásia tem investido pesado em inovação tecnológica no setor do entretenimento, incluindo o uso de inteligência artificial para dublagem e legendagem, produção em realidade aumentada e até integração com o metaverso.
Além disso, muitos jovens criadores asiáticos estão utilizando as redes sociais para lançar conteúdos independentes, muitas vezes com mais impacto que grandes produções. Esse dinamismo cria um ecossistema criativo pulsante, onde o talento e a originalidade são os maiores diferenciais.
Com a ascensão do 5G e a crescente democratização do acesso à internet em países em desenvolvimento, mais pessoas ao redor do mundo terão a oportunidade de explorar o que as plataformas asiáticas têm a oferecer.
Conclusão
As plataformas asiáticas conquistaram seu lugar no cenário global do streaming, não apenas pela qualidade técnica de suas produções, mas por entregarem narrativas envolventes, esteticamente cuidadas e profundamente humanas. Elas trazem ao público mundial algo novo — e, ao mesmo tempo, reconfortante: histórias que emocionam, conectam e nos fazem refletir sobre o que realmente importa.
O domínio asiático no streaming é mais do que uma tendência. É uma revolução cultural silenciosa, construída episódio por episódio, fã por fã. E tudo indica que essa revolução ainda está só começando.
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